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sábado, 27 de fevereiro de 2010

Esquema da Pedagogia Espírita

Como exigência natural do desenvolvimento das sociedades humanas, a Educação é um processo que se revela espontaneamente no meio social. Antecede, portanto, à Pedagogia.

As pesquisas sobre a Educação Primitiva, entre tribos selvagens, demonstrou que onde houver um pequeno aglomerado humano isolado surgirá inevitavelmente uma forma rudimentar de Educação. Nas tribos as crianças são realmente recebidas como criaturas estranhas que não conhecem o sistema de vida, as crenças e os rituais do grupo.

Mas como chegam através do nascimento devem ser bem recebidas e tratadas com atenção e carinho. Não obstante, são conservadas em observação e numa posição marginal durante boa parte da segunda e da terceira infâncias, como estrangeiros. Sua integração na tribo vai-se fazendo aos poucos, graças ao instinto de imitação.

Mais ou menos à altura da puberdade começam a ser iniciados nas crenças e nos ritos da tribo. Mas ao contrário do que geralmente se pensa, ao tratar de selvagens, essa educação natural se caracteriza pela bondade e a tolerância. Os pais e os adultos em geral respeitam na criança os seus impulsos e os seus caprichos.

Muitos observadores se espantam com a falta de castigo e repressões violentas dos adultos contra crianças que os atrapalham, que não raro lhes perturbam os afazeres.

A descoberta dessa forma de educação tolerante serviu para mostrar aos pedagogos o verdadeiro sentido da Educação. Sua finalidade não é coagir os educandos a entrosar-se num determinado sistema de vida, numa estrutura social, mas atraí-los com brandura e persuasão para essa integração.

Poderíamos considerar os ritos de iniciação como o início da educação formal nas tribos. Em geral é nesses ritos, já na puberdade, que a criança recebe um nome e é submetida a tatuagens e sinais físicos de que pertence à tribo.

Entre esses sinais se encontra, em certas tribos, a circuncisão usada pelos judeus. Hubert acentua que nesse momento é que a criança nasce realmente para a tribo. Perde o seu nome infantil (simples apelido) adquire um nome significativo e nasce para a vida tribal.

Os ritos de iniciação são geralmente brutais, mas decorrem da necessidade de preparar o menino para enfrentar a vida na selva. Deve aprender a suportar dores, torturas, privações, a fim de tornar-se um membro digno da tribo. Os processos de educação em Esparta tinham muitos desses resíduos bárbaros.

Já em Atenas os resíduos cediam lugar a novos métodos e surgiam princípios decorrentes da reflexão filosófica sobre o ato de educar. A Pedagogia nasceu em Atenas, juntamente com a Filosofia — diz Hubert — e isso não obstante a existência de modalidades pré-pedagógicas nas grandes civilizações orientais.

Essas modalidades se constituem mais de preceitos religiosos e morais do que reflexões sobre os problemas educacionais.

A Pedagogia se define como estudo da Educação, análise do processo educativo, com a finalidade não só de conhecê-lo mas também de orientá-lo, graças à descoberta das leis que o regem. Sua definição mais precisa, segundo nos parece, é a de Teoria Geral da Educação.

Distingue-se da Filosofia da Educação por abranger todos os aspectos do processo educacional e penetrar no próprio campo da prática.

A Pedagogia Aplicada implica os Métodos Peda-gógicos, que são sistemas formulados artificialmente, com base nas observações e investigações dos vários campos da atividade educacional. Implica ainda a utilização dos dados da Biologia, da Psicologia, da Sociologia, da Ética e assim por diante, que fornecem à pedagogias informações necessárias sobre o educando. Atualmente a utilização de recursos tecnológicos enriquece o campo das aplicações pedagógicas.

A Educação Espírita é um fato novo, uma nova forma de Educação que surge na era tecnológica. Apesar de originar-se de uma doutrina moderna, de bases científicas e desenvolvimento filosófico, essa Educação, como todas as formas educacionais, em todos os tempos, surgiu numa determinada sociedade, por exigências da vida prática.

A propagação do Espiritismo em nosso país e na América, mas com maior acentuação em nossa terra, propiciou a formação natural de uma nova subestrutura na sociedade brasileira. Esse é um dado sociológico importante para a elaboração da Pedagogia Espírita. Nenhuma sociedade se apresenta maciça, pois todas se estruturam em camadas diversas da população, em castas, estamentos e classes.

Mas também as correntes religiosas fazem parte da estrutura social e participam ativamente da sua dinâmica. Cada subestrutura constitui uma espécie de mosaico na formação da estrutura geral da sociedade e funciona como uma pequena sociedade.

A Educação Espírita é um produto natural e espontâneo da sociedade espírita. Figura, em nosso contexto social, ao lado da Educação Católica, Protestante, Judaica e outras. Os que estranham de falarmos em Educação Espírita e chegam às vezes ao cúmulo de censurar-nos, nada mais fazem do que confessar de público a sua ignorância nesse campo básico da Cultura.

A Pedagogia Espírita distingue-se das várias Pedagogias religiosas e da chamada Pedagogia Geral por incorporar os dados da Ciência Espírita.

Esses dados são revolucionários por darem, como vimos no capítulo anterior, uma visão inteiramente nova do homem e portanto do educando. As Pedagogias mais avançadas, como as de John Dewey, Kilpatrik, Georges Kerchensteiner e René Hubert, estas duas últimas colocando-se paralelamente à concepção espírita, não correspondem às exigências mais profundas e substanciais da Pedagogia Espírita.

Servem-lhe de apoio, de respaldo, e oferecem-lhe contribuições valiosas, mas não enfrentam o problema essencial da concepção do educando como um reencarnado. Esse problema envolve graves questões de ordem antropológica, biológica, psicológica, moral, estética, ética, jurídica e outras, que só a Pedagogia tem, ao menos por enquanto e talvez ainda por muito tempo, condições de tratar.

Deixar tudo isso de lado por simples ignorância, por temor de preconceitos sociais e culturais ou por motivos de discordâncias doutrinárias seria crime de lesa-humanidade.

A Educação espírita está aí, ante os nossos olhos, na realidade concreta de uma rede escolar espírita que vai dos cursos pré-primários até às unidades universitárias, prenunciando a breve formação da primeira Universidade Espírita do mundo.

Por outro lado, o problema da formação espírita é de importância vital para a Doutrina e não temos o direito de negligenciá-lo. Seria, por sinal, qualquer negligência nesse sentido, uma prova dolorosa da indigência mental dos espíritas.

Não nos impressionemos com os movimentos obscurantistas contra a Educação Espírita e a Cultura Espírita. Os obscurantistas permanecerão na sua obscuridade, mas o nosso dever é acompanhar o avanço da Doutrina, o seu desenvolvimento em direção às luzes do futuro.

A verdade sempre acaba prevalecendo. Sua força é irresistível. Temos a prova disso no exemplo de Kardec. Sua obra condenada, amaldiçoada, rejeitada e espezinhada é hoje encarada com respeito em todo o mundo, pois o próprio avanço das Ciências e as transformações atuais das Religiões a estão confirmando por toda parte.

Procuremos traçar um esboço da Pedagogia Espírita, embora modesto, ajudando-a a surgir das páginas de Kardec como as várias formas de Pedagogia Cristã surgiram das páginas do Evangelho.

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