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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ESPIRITISMO NA ESCOLA (Capítulo 1)

Não há nenhum impedimento de ordem lógica, ética, psicológica ou legal para o ensino do Espiritismo nas escolas públicas ou particulares. Mas algumas pessoas complicadas, dessas que gostam de descobrir problemas em tudo, criam uma controvérsia a respeito. Há, por exemplo, a posição dos que só admitem o ensino do Espiritismo nas instituições doutrinárias e no lar. É uma posição antiquada e que incide em dois erros fundamentais: a) o segregacionismo religioso; b) a domesticidade religiosa.

Restringir o ensino do Espiritismo às instituições (Centros, Grupos, Federações, etc.) é querer fechá-lo exclusivamente no âmbito do movimento dotrinário, é tomar uma posição igrejeira e portanto monacal, fazendo do Espiritismo o que os monges do ínicio da Idade Média fizeram do Cristianismo. Restringi-lo ao lar é voltar ao tempo da educação familial, que já não pode mais imperar em nossa civilização industrial. Além disso, o próprio conceito de Espiritismo sai diminuído, pois a doutrina perde a sua grandeza e se reduz a uma espécie de seita religiosa das mais ínfimas, do tipo da simples crendice que só deve ser tratada entre quatro paredes.

Há os que defendem o ensino espírita obrigatório nas escolas espíritas e alegam: Quem não quer que seu filho aprenda Espiritismo, que procure outras escolas. Como no caso anterior, esta posição é retrógrada e antiespírita, pois revela um sectarismo agudo e um evidente desrespeito àquilo que é básico no Espiritismo: o princípio de liberdade de consciência. Qualquer tentativa de violação da consciência e imposição de princípios é gritantemente contrária à própria natureza do Espiritismo. Como se poderia manter o nome de espírita numa escola que se opusesse assim à própria doutrina?

Mas há também, entre os que admitem o ensino escolar do Espiritismo, a conhecida controvérsia religião X ciência. Uns entendem que o Espiritismo não pode entrar no currículo como religião porque não é apenas isso, outros entendem que sim. E outros, ainda, pensam que ele só deve entrar no currículo escolar como ciência. Enquanto discutem suas opiniões os alunos espíritas são obrigados, nas escolas públicas e particulares, a frequentar aulas de religião católica ou protestante, não com prejuízo para a doutrina, que nada sofre com isso, mas com evidente prejuízo pedagógico para a sua formação.

Este é o ponto capital da questão, segundo nos parece. A situação dos alunos espíritas já é por si mesma marginal. As falsidades propagandas sobre o Espiritismo através de gerações sucessivas, os preconceitos mantidos no culto da tradição familiar, as confusões internacionais ou não entre Espiritismo e as formas de sincretismo religioso afro-brasileiro (particularmente a macumba) fazem que os alunos espíritas sejam olhados com suspeita pelos colegas e os mestres. Acrescendo-se a tudo isso o retraimento dos próprios espíritas, que se negam a lecionar a sua doutrina ou a admitir que ela possa ser ensinada livremente numa classe, é fácil imaginar-se a situação de contrangimento dos alunos espíritas no processo escolar. Pedagógicamente essa situação não é apenas um erro, mas um verdadeiro crime, o crime de segregacionismo condenado pela lei Afonso Arinos no caso racial.


Questão Religiosa
Há os que dizem também que o Espiritismo não é religião e por isso não merece a franquia legal do ensino religioso nas escolas. Mas a segunda intenção, nesse caso, é tão evidente que chega a passar para o primeiro plano. Compreende-se logo que a intenção principal desse argumento é impedir o ensino espírita nas escolas. Perguntemos, não obstante, se há alguma substância nessa alegação.

O Espiritismo é uma doutrina escrita, codificada. Tem as suas escrituras e as suas raízes escriturísticas. O fato de ter surgido como ciência e de se conservar legitimamente como tal não exclui a possibilidade da existência de um conteúdo religioso em sua estrutura doutrinária. Tanto mais que ele, o Espiritismo, desde o início, a partir de Kardec, desde a sua fase pré-histórica, que vai de Swedenborg até às irmãs Fox (segundo Conan Doyle) ele mesmo sempre se considerou como religião. Por isso as suas escrituras, embora não se considerando sagradas, estão naturalmente ligadas às escrituras sagradas do Judaísmo e do Cristianismo: a Bíblia e os Evangelhos.

Como ensina André Moreil, aluno atual de Kardec, o Esiritismo é religião quando trata da sobrevivência da alma após a morte do corpo, do seu destino na vida espiritual e de suas relações com Deus. Esses problemas, como já afirmou Kardec na introdução de O Livro dos Espíritos, constituem mesmo a essência e a força do Espiritismo, sendo inegavelmente problemas religiosos e não científicos. Para dizer que o Espiritismo não é religião teríamos de tirar dele os espíritos. E o que sobraria então? A penas a ciência dos fenômenos paranormais? Então não seria Espiritismo, mas Metapsíquica ou Parapsicologia.

Não queremos aprofundar a questão já tão exaustivamente tratada por outros, para não nos desviarmos do objetivo deste trabalho. Lembremos apenas que até o Positivismo, a doutrina filosófico-científica de Augusto Comte, mesmo mesmo sem tratar desses problemas metafísicos, acabou criando uma religião, que por sinal considerou como sucessora e herdeira do Catolicismo. Sabemos que toda Filosofia exige a elaboração de uma moral, de um código de comportamento social segundo os seus princípios. Quando essa moral envolve o destino do homem, mesmo na Terra (como no caso do Positivismo) ela se transforma em religião.

Kardec identificou a moral espírita com a moral cristã. Os Espíritos foram os primeiros a lhe dizer isso e continuam a dizê-lo até hoje, através de todas as comunicações elevadas. Ora, Kardec definiu o Espiritismo como Ciência e Filosofia que se completam na Moral. Mais tarde esclareceu, em seu último discurso na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, como bem nos lembra em valioso trabalho o Dr. Luis Monteiro de Barros, que essa Moral é na verdade Religião. Mas bastariam os tópicos religiosos da Codificação e livros como O Evangelho Segundo o Espiritismo para vermos que o Espiritismo é religião.

Alegam os contraditores que a religião exige elementos que o Espiritismo não possui, como sacerdócio organizado, culto com rituais e liturgia. Mas isso é simplesmente ignorar o verdadeiro conceito de religião e apagar-se a definições superadas de dicionários populares. É também ignorar o ensino de Jesus nos Evangelhos sobre a religião em espírito e verdade. A essência da religião é o que importa e não os aparatos humanos de que a revestem na ordem social. Religião é o desenvolvimento no homem do sentimento religioso , daquela lei de adoração a que Kardec dedicou todo um capítulo em O Livro dos Espíritos. Quem ousaria negar que o Espiritismo religa o homem a Deus, que devolve aos ateus a plenitude dos seus sentimentos religiosos desfigurados pelas encarnações e as falsas explicações das religiões formalistas?

Por outro lado, a lei brasileira reconhece o Espiritismo como religião. Não se trata de um reconhecimento formal, pois não há nenhuma forma legal de se decretar que alguma coisa seja religião, mas de um reconhecimento tácito e tradicional. Desde os fins do Império e através de toda a República o se beneficiou, no Brasil, das regalias religiosas (embora mínimas) como seja o reconhecimento oficial, em documentos de toda espécie, de que certas pessoas professam a religião espírita, o que se verifica inclusive nos fprmulários censitários e nas estatísticas oficiais. Negar, pois, que Espiritismo seja religião é simples desconhecimento, simples ignorância do conceito de religião, da nossa tradição e da nossa posição oficial a respeito. Ou, o que seria pior, é simplesmente má-fé.


A Ciência Espírita
Quanto à Ciência Espírita, a confusão reinante não é menor, pois a má fé presente em todos os campos em que o sectarismo se infiltra. Se uns dizem que o Espiritismo não é religião, outros afirmam que ele não é ciência. Ultimamente apareceram também alguns extravagantes que negam a existência da Filosofia Espírita. Dessa maneira se fecha o círculo da reação, negando ao Espiritismo todos os seus aspectos. Mas só quem não tem a menor noção de Filosofia pode dizer tal coisa, pois todos sabemos que a Filosofia é uma concepção do mundo e que há tantas filosofias quantas as concepções formuladas. A primeira caracteristica do Espiritismo, que mais ressalta à vista, é a sua concepção renovadora do mundo, da vida, do homem, colocada como um marco divisório entre o Materialismo e o Espiritismo dogmáticos, ambos dogmáticos, para abrir à Humanidade as possibilidades da era cósmica em que hoje nos encontramos.

Mas analizaremos o problema da Ciência espírita no tocante ao ensino escolar do Espiritismo. Seria possível introduzirmos essa ciência nos currículos escolares atuais? Sabemos que não, pois a própria Parapsicologia, que inegavelmente uma ciência de tipo comum, com metodologia integrada nas exigências científicas comuns e aceita em todas as grandes Universidades mundiais, encontra ainda hoje a repulsa dos nossos próprios meios universitários, amedrontados, não com ela, mas com o desenvolvimento do Espiritismo no país.

Então, dizem alguns, está aí a prova de que o Espiritismo não é ciência, pois se o fosse ninguém poderia recusá-lo num currículo científico. Também o Magnetismo foi recusado durante anos por fim tiveram de admiti-lo, embora com o nome novo de Hipnotismo. O problema da Ciência Espírita foi em colocado por Kardec desde a introdução de O Livro dos Espíritos. Kardec mostrou que o Espiritismo é a ciência do Espírito enão deve ser confundido com as Ciências que se aplicam aos vários campos da matéria. Por isso, porque o seu objetivo é o espírito, os seus métodos de pesquisa e de observação têm de ser outros. Se as ciências materiais se recusam a admiti-lo no seu convívio é simplesmente porque o pensamento materialista, dominante após a queda do absolutismo teológico da Idade Média, está ainda amedrontado diante dos problemas metafísicos. Podemos lembrar o refrão popular: gato escaldado tem medo de água fria.

A Ciência Espírita, porém, não é metafísica no sentido clássico do termo. Seus métodos de pesquisa são positivos e exigem comprovações rigorosas. Cabe, portanto, a Universidade Espírita, que felizmente já está se organizando entre nós, a grande tarefa de provar que a Ciência Espírita deve ocupar o seu lugar no mundo das Ciências.Da mesma maneira que a Psicologia e a Sociologia encontram ainda hoje pessoas que lhes negam a qualificação de ciências, por não se enquadrarem e não poderem de fato enquadrar-se nos métodos materiais de pesquisa, o Espiritismo como ciência encontra a objeção das criaturas sistemáticas. Enquanto perdura essa situação não é justo negarmos, nós mesmos, os espíritas, o direito ao Espiritismo de penetrar nas escolas como religião. Se não podemos começar pelo começo, mas nos permitem começar pelo fim, que mal há nisso? Na verdade o Espiritismo pode ser aprendido de diante para trás ou de trás para diante, de cima para baixo ou de baixo para cima, pois a sua estrutura global permite-nos o acesso à sua realidade por qualquer lado.

E para que os maliciosos não digam que isso é uma estratégia de tipo inferior, lembremos que em todo o campo do Conhecimento as coisas se passam exatamente assim. A sequencia espírita de ciência, filosofia e religião não é privativa da nossa doutrina. Já vimos o caso do Positivismo. Essa Filosofia científica parte dos dados da Ciência para formular uma concepção do mundo e através desta chege à Religião. O transito de um campo do Conhecimento para outro está sempre aberto ao espírito. E quando encaramos os problemas a sério, não nos contentando apenas com um dos seus aspectos, esse trânsito é obrigatório.

Por outro lado, existem os dois processos fundamentais da Lógica: o dedutivo e o indutivo, que não devemos esquecer. A Filosofia e a Religião são detutivas, partem de grandes princípios metafísicos como o da existência de Deus, por exemplo, para deduzirem a realidade concreta. A Ciência é indutiva, parte da multiplicidade dos fenômenos para chegar a uma indução da realidade. Essa a razão de dizermos que podemos conhecer o Espiritismo começando de baixo para cima ou vice-versa. Tanto mais que a Religião Espírita põe a sua ênfase na indução, fazendo questão de mostrar que chegou à prova da existência de Deus, da sobrevivência espiritual e da lei de adoração, a partir do exame dos fenômenos.


Solução Filosófica
Parece que podemos chegar assim a uma solução filosófica do problema do ensino religioso na escola. O que interessa ao Espiritismo não é o tipo de ensino sectário que hoje se processa de maneira negativa ou inócula no meio escolar. O que se deve ensinar na escola, para que ela se liberte do laicismo a que foi obrigada pela pressão sectária, não é esta ou aquela religião (denominação ou seita religiosa) mas a Religião como um todo, como uma província específica do Conhecimento, como um campo cultural que não pode ser omitido no processo de transmissão da cultura. A escola laíca deixaria então de ser atéia ou sectária para se tornar uma escola que engloba no seu ensino todo o sistema cultural.

Para isso, o ensino religioso deve ser dado na escola (em todos os graus do ensino) como matéria filosófica, abrangendo a História, a Filosofia e a Psicologia da Religião. Dessa maneira atingiríamos o verdadeiro objetivo escolar que é a formação cultural no mais amplo sentido, sem as limitações sectárias e as idiossincrasias grupais que hoje deturbam e criam conflitos insanáveis em nossos sistema escolares. A escola espírita deve dar o exemplo nesse sentido, deve fazer-se pioneira dessa renovação escolar.

Com esse sistema afastamos da escola o sectarismo antipedagógico e o segregacionismo criminoso, devolvendo-lhe ao mesmo tempo o ensino da Religião, ou seja, a alma que lhe falta. Vai longe o tempo em que o Estado se confundia com a Religião. Estamos na era cósmica e todos compreendemos a mensagem cristã do Deus único. O Estado não pode mais interessar-se por esta ou aquela religião; por esta ou aquela seita. O que lhe interessa de fato é a Religião, o sentimento do divino inato na criatura humana, a aspiração da transcendência e da comunhão com Deus, essas idéia superior, esse conceito supremo, como Kant o definiu, em que o homem revela o grau mais elevado do seu entendimento e da sua capacidade de formular juízos abstratos. Dando isso aos educandos e deixando-lhes a inteira liberdade da escolha particular que desejem fazer no vasto campo das religiões - a escola estará cumprindo a sua missão de ensinar e educar no mais alto sentido. Mas enquanto isso não for possível não é justo, nem humano, que os espíritas deixem os alunos espíritas abandonados nas escolas à sanha fanática dos sectarismos.


Pioneirismo Espírita
É com grande satisfação que podemos registrar o pioneirismo das escolas espíritas nesses campo, O ideal universalista do Espiritismo encontra na decisão da ONU, através da resolução da UNESCO, uma similitude de interpretação que constitui mais uma prova da atualidade da nossa doutrina. A posição de Kardec e de Léon Denis, o codificador e seu sucessor, universalistas franceses que souberam amar ardentemente o seu povo e a sua terra, servido-os com extrema fidelidade, poderia servir de modelo a esse tipo de civismo que se destina a consolidar a paz entre os povos.

Precisamente por isso as escolas espíritas preocuparam-se com o problema em nosso país, desde que foram criadas. No Instituto Lins de Vasconcelos, de Curitiba, o seu diretor Prof. Ney Lobo, chegou a instalar uma sala especial de Educação Cívica, dotada de quadros, símbolos, gráficos e outros elementos destinados a objetivar para os alunos o ensino da História e a explicação dos emblemas representativos da Nação Brasileira. No Instituto Espírita de Educação, em São Paulo, a cadeira de História do Brasil desdobrou-se num curso de Ciências Morais, através do qual os alunos aprendiam os princípios morais como derivantes objetivos do contexto social, a partir da formação familial. Daí a razão da designação de Ciências Morais, como natural complementação ou sequencia das Ciências Sociais, entrosando-se ambas as disciplinas numa visão sociológico-espírita.

Ao mesmo tempo que o ensino moral era oferecido aos alunos em geral (curso ginasial), o ensino religioso de Espiritismo era propiciado aos alunos espíritas. Mesmo os não-espíritas , porém, recebiam noções religiosas através do ensino moral. O problema foi levantado e discutido no recente Congresso Educacional Espírita Paulista. O Prof. Herculano Pires , que respondia pela cadeira de História do Brasil e de Ciências Morais naquele Instituto, estando já afastado do mesmo, lembrou o que se fazia no seu tempo. A seguir, o Prof. Emílio Manso Vieira, atual diretor do Ginásio, declarou que atualmente essas disciplinas foram englobadas na cadeira de Educação Moral e Cívica, pois o programa oficial, segundo disse, corresponde em grande parte aos programas anteriores.

Nos cursos pré-primário e primário do Instituto, como ocorria também no seu congênere do Paraná, os problemas morais e cívicos eram tratados no devido nível de ensino, sob a direção da Profa. Elza Mazoneto Machado. Bastariam esses exemplos para garantir à escola espírita o pioneirismo nesse campo.


Moral, Civismo e Paz
As forças morais de um povo se concentram e se desnvolvem no sentimento comum do amor pátrio. Como ensina Hubert: "Entre o sentimento de pertencer aos grupos sociais mais restritos, que caracteriza a infância, e o sentimento de pertencer à comunidade humana, que caracteriza o adulto em sua plena maturidade, interpõe-se a integração nos agrupamentos amplos e não obstante bem definidos que são o povo, a nação, o Estado".

A Moral - postula o sociologismo esmpírico, enfatuado de um objetivismo superficial - é apenas a racionalização dos costumes. Mas as investigações profundas no campo da Filosofia, da Antropologia Cultural, da Psicologia e da Ética mostramque por trás dos costumes há o poder de um subjetivismo atuante e orientador, que determina os próprios costumes nas coordenadas da evolução histórica. Esse subjetivismo é o que o relativismo crítico da linha néo-kantiana chama de exigências da consciência. A Moral e a Religião, como o demonstrou Bergon, nascem da profundezas da alma.

O Espiritismo nos ensina que o homem é um processo (e não apenas o pro-jeto existencial) um processo que vai do ser biológico ao ser social deste ao ser moral e deste ao ser espiritual. Todo esse processose desenvolve sob o agulhão da exigências da consciência, das aspirações crescentesda alma na busca do mais elevado e do mais puro. Mas entre o egcentrismo e o sociocentrismo das primeiras idades e o universalismo do adulto se interpõe, como assinala Hubert (Traité de Pedagogie Génerale) a integração na Pátria. Essa integração restabelece o equilíbrio no concreto, no real, que a abstração universalista pertuba em muitos espíritos.

Dessa maneira, o civismo bem compreendido e bem sentido é uma determinação moral. O sentimento de Pátria é o elo que liga o cidadão ao Homem, é a ficha de identidade que lhe permite o trânsito pelas avenidas do mundo. A criatura que não possui esse sentimento é como o que não tem família: faltam-lhe as medidas do humano. Se o patriotismo estreito é negativo e pode gerar a guerra o patriotismo arejado e esclarecido é positivo, constitui um impulso do homem para a integração universal e o leva para a compreensão e a paz. Assim como o homem sem lar torna-se marginal e perigoso para a sociedade, o homem sem pátria é um perigo permanente para a paz. Os próprios universalistas proletários do marxismo tiveram de compreender isso e voltar ao conceito de pátria para poderem sobreviver.


Formação do Homem
A Educação Intelectual forma o pensador. A Educação Filética ou dos sentimentos forma o filantropo. A Educação Moral forma o homem. A Educação Cívica forma o cidadão. A Educação Espírita é a síntese de todas essas formas, que nela se reúnem como um feixe de forças integrando a criatura humana na plenitude da sua natureza. Os que se rebelam contra o patriotismo e o civismo, em razão das explorações que se fazem dessas palavras, revelam curta compreensão do problema. Fazem como os que abominaram a Medicina por causa dos maus médicos e os que combatem a Religião por causa dos maus religiosos.

A formação do homem é complexa porque bastante complexa é a natureza humana. Por isso mesmo o estudo do Espiritismo exige uma atitude arejada do interessado. O estudante deve encará-lo de mente aberta, livre de preconceitos e idiossincrasias. Sua chave é a lei de evolução, lei suprema que tudo dirige no Universo. Como vimos acima, no campo da Educação temos de encarar os fatos num encadeamento lógico. Sem isso não compreenderíamos as fases educacionais e sua correspondência com as fases da evolução espiritual do homem. "Tudo se encadeia o Universo', diz incessantemente O Livro dos Espíritos.

"Queremos um mundo sem fronteiras", afirmam alguns espíritas. Sim, mas não sem pátrias. Os próprios Espíritos falam em Pátria Espiritual e nos contam que mesmo no mundo em que se encontram existem distinções vibratórias entre comunidades espirituais. A Educação Moral e Cívica é indispensável à formação e orientação das gerações. Em grande parte a negligência desse aspecto educacional foi responsável pelo ceticismo que corrói o nosso século, afastando os jovens do sentimento religioso, do amor à Pátria e do respeiro pelo país. A reação contrária a essa desagregação desce aos extremos do ridículo e se torna perniciosa. Só uma educação bem dirigida pode restabelecer o equilíbrio.

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